MICHEL EYQUEM DE MOTAIGNE nasceu no dia 28 de fevereiro de 1533, na localidade de Saint-Michel-de-Montaigne, Aquitânia, França. Morreu no mesmo local no dia 13 de setembro de 1592.
Era filho de uma família de ricos negociantes de Bordeaux. Preocupado com os símbolos exteriores da aristocracia, o pai deu ao menino requintada educação. Cercado de todos os cuidados, teve uma infância tranquila. Depois de ter estado interno no Colégio de Guyenne, em Bordeaux, estudou Filosofia e Direito. Aos 21 anos, substituiu o pai em um tribunal. Quando a corte foi extinta, transferiu-se para o parlamento de Bordeaux. O contato com as leis e suas contradições despertou sua crítica, revoltando-se, sobretudo, com a crueldade das punições.
Abandonando a magistratura, reteve desse tempo apenas uma boa recordação: a imensa relação afetiva que estabeleceu com o jovem Etienne de La Boétie (1530-1568). De volta à sua propriedade, permanecia muito tempo na biblioteca, lendo e registrando os acontecimentos de seu cotidiano. Esses estudos e os escritos iriam, depois, compor os dois primeiros livros de Ensaios. Durante o ano de 1580, por razões de saúde e de curiosidade intelectual, viajou pela Suíça, Itália e Alemanha. De passagem por Paris, mostrou seus Ensaios ao rei Henrique III (1551-1589). Registrou suas impressões no Diário de Viagem. Quando voltou a Bordeaux, em 1581, foi eleito prefeito, cargo que ocupou até 1585.
De volta à sua propriedade, dedicou-se exclusivamente à Filosofia. Apesar da diversidade dos temas que abordou, dois estímulos foram básicos em seu pensamento: a paixão pela liberdade e a busca da verdade. Os Ensaios — publicados entre 1580 e 1588 — mostram a diversificação de seus interesses. O autor se revela tanto um conservador como um diletante à procura de prazeres intelectuais. Em outros trechos defende posições reformistas, protestando contra injustiças e torturas e contra os processos de colonização da América, que considerava odiosos. Em alguns ensaios, preocupa-se com problemas educacionais, propondo um método pedagógico centrado na articulação entre exercícios físicos e intelectuais. Em muitos aspectos, foi um precursor do Iluminismo, valorizado tanto por Motesquieu quanto por Voltaire.
Não pode ser enquadrado em nenhuma escola filosófica. Inicialmente, interessou-se pelo estoicismo. Depois, tornou-se cético. Dúvidas e interrogações são encontradas em quase todos os Ensaios, constituindo-lhes a tônica dominante. Mas é principalmente o mais extenso deles — a Apologia de Raymond Sebond — que a índole interrogante do seu pensamento se manifesta mais claramente. Nele, o autor mostra que não tem nenhum fundamento a suposta supremacia do homem perante os demais seres da natureza. Ele concorda com os filósofos renascentistas da natureza, que afirmam a unidade entre o homem e o mundo natural. Mas, ao contrário daqueles pensadores — que consideram o homem como capaz de conhecer o universo no qual está integrado —, ele afirma ser impossível derivar as leis reguladoras do universo a partir desse seu pequeno fragmento, que é o homem.
De acordo com a crítica filosófica, o autor mostrou que a sabedoria está no autoconhecimento. Ninguém explorou tanto próprio íntimo como ele. Apesar dessa marcante individualidade, ele também exibe uma sabedoria universal, que envolve o leitor em tom de conversa íntima. Sobre a morte, ele protestava contra a expressão “morte natural”, pois os acidentes também fazem parte da natureza. “Morrer de idade avançada — dizia — é um privilégio raro”. Não por acaso, faleceu enquanto ouvia missa, em seu quarto, aos 59 anos. “De causas naturais”.