Cruz e Souza
JOÃO DA CRUZ E SOUSA nasceu no dia 24 de novembro 1861 na cidade de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), Estado da Santa Catarina. Morreu no dia 19 de março de 1898 na cidade de Curral Novo (atual Antônio Carlos) no Estado das Minas Gerais. Filho de escravos alforriados, teve uma educação esmerada. Isso porque praticamente foi adotado pelo marechal Guilherme Xavier Sousa, um dos mais proeminentes militares do Exército Brasileiro. Assim, estudou nas melhores escolas, nas quais aprendeu francês, latim e grego. Além disso, iniciou-se em matemática e ciências naturais. Mas a vocação dele era mesmo as letras.
Em 1881 assumiu a direção do jornal Tribuna Popular na cidade natal, no qual passou a combater a escravidão e o preconceito racial. Na literatura, o primeiro livro — “Tropos e Fantasias” —, escrito em parceria com o jornalista Virgílio Várzea, saiu em 1885. Cinco anos depois mudou-se para o Rio de Janeiro, onde empregou-se na Estrada de Ferro Brasil Central e continuou a produção literária. No total são nove livros, seis dos quais publicados postumamente. A crítica literária aponta como a obra-prima dele o livro de poemas em prosa “Evocações”, lançado em 1898. O autor, que também respondia pelos pseudônimos “Dante Negro” e “Cisne Negro”, foi um dos principais representantes do simbolismo no Brasil.
Na lama e na noite triste
Aquele bêbado ri!
Tu’alma velha onde existe?
Quem se recorda de ti?
Por onde andam teus gemidos,
Os teus noctâmbulos ais?
Entre os bêbados perdidos
Quem sabe do teu — jamais?
Por que é que ficas à lua
Contemplativo, a vagar?
Onde a tua noiva nua
Foi tão depressa a enterrar?
Que flores de graça doente
Tua fronte vem florir
Que ficas amargamente
Bêbado, bêbado a rir?