Imprimir
Categoria: Fluminenses Escritores
Acessos: 5088

policarpo1Policarpo

28/03/2021 — Já está nas livrarias mais uma edição da obra “Triste Fim do Policarpo Quaresma” do autor fluminense Lima Barreto. Publicado originalmente em 1911, o livro traz um retrato da realidade brasileira após a proclamação da república. Embora o país procurasse criar uma identidade nacional, ainda estavam intactas muitas das características da sociedade colonial. O personagem Policarpo Quaresma encarnava, assim, o nacionalista genuíno. Chamado de “major” mais por costume do que por mérito militar, ninguém o podia impedir de proclamar os costumes da terra. Passou para a história como um dos personagens mais emblemáticos da literatura brasileira. A edição de agora tem 432 páginas e conta com ilustrações do cartunista João Montanaro.

limabarreto in1Lima Barreto
AFONSO HENRIQUES DE LIMA BARRETO nasceu no dia 13 de maio de 1881 e morreu no dia 1.º de novembro de 1922, na cidade do Rio de Janeiro.
Funcionário público e jornalista, teve uma vida marcada pelo sofrimento. Mestiço de origem humilde, nunca conseguiu vencer o alcoolismo e chegou a ser internado em hospícios. Na juventude, sofreu preconceito dos colegas e, mesmo quando lançou as suas primeiras obras, foi ignorado pela crítica. Filho de um tipógrafo, foi incentivado pela família a cursar medicina, mas optou por engenharia civil, embora não tenha concluído a faculdade.

Somente com as noções adquiridas na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, conseguiu um emprego na área de engenharia no Ministério da Guerra, mas acabou aposentado por invalidez, pois as constantes crises provocadas pelo consumo excessivo do álcool não o deixavam trabalhar. Influenciado por Machado de Assis , foi um grande admirador da literatura russa. Entre as suas principais obras estão Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Triste Fim de Policarpo Quaresma e Clara dos Anjos (1948), livro publicado 26 anos após a sua morte. Nas primeiras duas décadas do século 20, também ganhou destaque como contista.

Crítico implacável da realidade brasileira, teve a coragem de romper com o nacionalismo ufanista, muito comum à época. Por isso, foi muito criticado pelos contemporâneos parnasianos por seu estilo coloquial que, anos mais tarde, seria uma das marcas registradas do modernismo. Como jornalista, começou a trabalhar em 1902, assinando artigos para os periódicos Correio da Manhã, Jornal do Commércio, Gazeta da Tarde e Correio da Noite, entre outros. Parte do seu trabalho publicado na imprensa foi escrito sob pseudônimos, entre os Rui de Pina, Dr. Bogoloff, S. Holmes e Phileas Fogg. Em 1907, junto com alguns amigos, editou a revista Floreal, mas não obteve sucesso.

Sem dinheiro para bancar a publicação e com poucos anunciantes, tomou a decisão de encerrar a publicação com apenas quatro números editados. Marginalizado pelos colegas da Academia Brasileira de Letras, tentou, por duas vezes, conquistar uma cadeira de imortal. Na primeira delas, em 1919, obteve apenas dois votos. Na segunda tentativa, foi derrotado de novo. O romance mais famoso dele, Triste Fim de Policarpo Quaresma, foi inicialmente publicado em folhetins do Jornal do Commércio, antes de ganhar a versão em livro. A obra, que ganhou diversas teses acadêmicas, foi adaptada para o cinema e para o teatro. Morreu, precocemente com 41 anos, vencido pela bebida.

Boicotado pelos intelectuais e pela alta sociedade do Rio de Janeiro, o seu enterro foi muito concorrido  por pobres e anônimos suburbanos, sobre quem escrevia, que fizeram questão de acompanhar o seu corpo até o cemitério. Dois dias após a sua morte, aconteceu uma outra tragédia na família: o seu pai, João Henriques de Lima Barreto, que sofria de doenças mentais, morreu. Em 2003, a editora José Olympio relançou lançou o livro A Vida de Lima Barreto, biografia escrita pelo jornalista Francisco de Assis Barbosa. Ele construiu um retrato impecável do autor carioca. Essa obra, originariamente lançada em 1952, colaborou muito para o reconhecimento póstumo de um dos mais importantes e originais escritores do país. Em 2006, a editora Agir lançou Toda Crônica.

Além das crônicas, o livro traz a última foto do autor, feita para a internação dele num hospício, em 1919. Em 2008, a editora Martins Fontes lançou Histórias e Sonhos, livro de contos, em que o autor apresenta relatos bizarros, que incursionam pelo sobrenatural e pela ficção científica, sempre com veia irônica. A edição, a cargo do crítico Antônio Arnoni Prado, reconstituiu a seleção original feita pelo próprio Barreto em 1920. Em setembro de 2010, as editoras Cosac Naify, Loyola e Companhia das Letras lançaram, simultaneamente, as obras Diário do Hospício e Cemitério dos Vivos, Lima Barreto e a Política e Contos Completos de Lima Barreto. Em 2011, o romance Clara dos Anjos ganhou uma adaptação em quadrinhos feita pelo roteirista Wander Antunes e pelo ilustrador Marcelo Lellis.