Sousa Caldas
ANTÔNIO PEREIRA SOUSA CALDAS nasceu no dia 24 de novembro de 1762 e morreu no dia 02 de março de 1814, na cidade do Rio de Janeiro. Nascido no seio de uma família abastada, com sete anos de idade, mudou-se para Portugal, onde foi educado e passou a maior parte da vida. Bacharelou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, mas nunca exerceu a advocacia. Ainda estudante, manifestou muito racionalismo no poema “Ode ao Homem Selvagem”. Isso provocou para ele dificuldades com a Igreja Católica. Foi preso e torturado pelo Santo Ofício, o órgão religioso disciplinar, condenado por heresia e blasfêmia. Ficou recolhido no Convento de Rilhafoles por seis meses, para ser catequizado.
Mais tarde, enquanto viajava pela Europa, passou por uma crise de misticismo, tomando, assim, ordem religiosa na Itália. Voltou definitivamente para o Rio de Janeiro em 1808, com a família real. Em suas obras literárias, formulava, explicitamente, um dos temas dominantes do pensamento europeu do Século XVIII: a volta à natureza. Contudo, ao contrário dos poetas portugueses da época, não tratava esse retorno de forma bucólica e romantizada. Visualizava a volta à natureza como uma maneira de escapar da sociedade que o oprimia. As “Obras Poéticas” foram editadas somente 1821 por um amigo e testamenteiro. Escreveu, também, “Poesias Sacras”, editadas no Rio de Janeiro quase sessenta anos após a sua morte. Foi patrono da cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras.
Soneto
Oito anos apenas eu contava,
Quando à fúria do mar, abandonando
A vida, em frágil lenho e demandando
Novo clima, da pátria me ausentava.
Desde então à tristeza começava
O tenro peito a ir acostumando;
E mais tirana sorte adivinhando
Em lágrimas o pai e a mãe deixava.
Entre ferros, pobreza, enfermidade,
Eu vejo, ó céus! que dor! que iníqua sorte!
O começo da mais risonha idade.
À velhice cruel (ó dura morte !)
Que faz temer tão triste mocidade,
Para poupar-me descarrega o corte.