rastros-de-veraoRastros de Verão

01/10/1986 — Um dos sucessos mais elogiados da última Bienal do Livro, “Rastros de Verão”, é, na opinião da crítica, uma história admiravelmente bem executada. O autor atingiu, nessa obra, a sua melhor qualidade. A trama conta a história de um retorno. Na manhã de uma terça-feira de carnaval, o narrador-personagem volta a Porto Alegre, de ônibus. Quando desembarca, está, na verdade, embarcando no pesadelo de uma cidade de ruas vazias e prédios familiares, mas mortos. A impressionante ilustração da capa é a expressão desse momento: o personagem está, de repente, diante de si mesmo, numa cidade que lhe é familiar, mas onde ele é apenas um estranho recém-chegado, que perdeu até a forma típica de falar do lugar.

O homem tem os sapatos cobertos de poeira de outros lugares, há uma mulher de um apartamento da Rua Riachuelo, o sujeito com uma âncora tatuada: são todos espectros distantes. O seu pai que vai morrer é, ao mesmo tempo, o possível pretexto dessa volta e também a certeza do seu pesadelo. O autor conduz essa visita alucinante ao subterrâneio da alma e do tempo passado do personagem, com a precisão de um roteiro cinematográfico. Resulta, daí, um texto moderno, o qual sugere Bob Dylan ao fundo, bem adaptado ao cenário sombrio da cidade misteriosa, que recebe o visitante, na manhã de calor sufocante, com cartões-postais de montes nevados. Este é o quarto livro ao autor gaúcho. Os outros são: “O Cego e a Dançarina” (1980), “A Fúria do Corpo” (1981) e “Bandoleiros” (1985).

joao-gilberto-noll 20170822João Gilberto Noll
Nasceu no dia 15 de abril de 1946 e morreu no dia em março de 2017, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Cursou Letras na universidade federal do seu estado, mas concluiu os estudos na Faculdade Notre-Dame, do Rio de Janeiro. Na capital carioca, atuou como jornalista. O seu primeiro livro de contos — “O Cego e a Dançarina” —, de 1980, recebeu diversos prêmios, entre os quais o Jabuti, o mais importante da literatura brasileira. Um dos contos — “Nunca Fomos Tão Felizes” — virou filme em 1984. A obra “Harmada”, de 1993, também ganhou o Jabuti e virou filme em 2003, pelas mãos do diretor Maurice Capovilla. Voltaria a ganhar o Jabuti em 1997, com o “Céu Aberto”, em 2004, com o “Mínimo Múltiplos”, e em 2005, com o “Lorde”. No total, são 19 livros publicados.

harmada p1Livros Publicados
1980 — O Cego e a Dançarina
1981 — A Fúria do Corpo
1985 — Bandoleiros
1986 — Rastros de Verão
1989 — Hotel Atlântico
1991 — O Quieto Animal da Esquina
1993 — Harmada
1996 — A Céu Aberto
1997 — Contos e Romances Reunidos
1999 — Canoas e Marolas
2002 — Berkeley Em Bellagio
2003 — Mínimos Múltiplos
2004 — Lorde
2006 — A Máquina do Ser
2008 — Acenos e Afagos
2009 — O Nervo da Noite
2009 — Sou Eu!
2010 — Anjo das Ondas
2012 — Solidão Continental


 

 



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