GIACOMO LEOPARDI nasceu no dia 29 de junho de 1798, na localidade de Recanati, Macerata, Itália. Morreu no dia 14 de junho de 1837, na cidade de Nápoles, Campânia. A noia — termo com o qual os italianos expressam muito mais que o tédio, fastio, aborrecimento, nojo e desgosto — foi uma das suas principais características. Posteriormente, vários artistas e intelectuais (entre eles o romancista Alberto Moravia e o cineasta Michelangelo Antonioni) também fariam da noia um dos motivos centrais de suas obras.
E o conteúdo da palavra encontraria correspondência no absurdo existencial descrito por filósofos contemporâneos, como Jean-Paul Sartre. Mas com o poeta italiano, a noia fora quase resultado direto de uma vida sempre ameaçada pela precariedade física e pela infelicidade. Criado na severa e preconceituosa disciplina dos nobres e dominado principalmente pela mãe (mulher a quem interessava somente resguardar o mundo e o patrimônio familiares), teve de se contentar, durante a infância e na juventude, com a biblioteca do pai. Nela, jamais entrara um autor contemporâneo. No entanto, eram muitos os clássicos. Entre eles, Dante Alighieri, Francesco Petrarca e os antigos gregos e latinos.
Esses autores exerceriam profunda influência em seus primeiros trabalhos. Na noite de natal de 1812, ofereceu uma dessas tragédias (Pompeo in Egitto) ao pai. Quatro anos depois, escreveria o discurso Della Forma di Orazio Presso gli Antichi e daria início à sua produção poética com o idílio Le Rimembrazone. A partir daí, passaria a revelar ambições, decepções, melancolias e a noia que o atormentava. Nem mesmo num de seus períodos mais fecundos, de estudo e participação intelectual em Milão, Bolonha, Pisa e Florença, conseguiu se libertar das raízes que o prendiam à terra natal. E quando se sentiu arrasado por uma experiência amorosa mal sucedida em Florença, retornou ao lar que tanto o deprimia. Encontrou a família praticamente arruinada. Percebeu que seu apego à poesia não seria a milagrosa chave do equilíbrio econômico.
Assim, tornou a partir com sua desilusão, desta vez para Nápoles, procurando apoio na amizade sincera de Antonio Ranieri. Nessa cidade deixou-se ficar, doente e infeliz, até que a epidemia de cólera de 1837 o incluísse entre as suas vítimas. Na correspondência mantida com os poucos amigos e no material que reuniu de 1817 a 1832 (publicado com o título de Zibaldone), abriu a memória e o coração: falou de leituras e do passado, questionou a vida e a morte, desabafou sobre “a infinita inutilidade de todas as coisas”. Alguns de seus poemas (La Sera del Di di Festa, Il Passero Solitario, A Se Stesso) revelam a mesma desesperança, na província e na solidão. Suas reflexões filosóficas, simples e grandiosas a um só tempo, dão mostras de sua personalidade e de sua concepção pessimista do mundo. A parte mais importante de sua obra é representada pelas Operette Morali (1824) e pelos Canti (reunião de vários poemas).
Com as primeiras, deu forma teórica à sua filosofia da infelicidade humana. Na introdução, afirmou mesmo ser impossível a existência de um mundo feliz.Era clássico por formação, mas romântico por pensamento e sentimentos. Declarava-se adversário do Romantismo, mas seu lirismo lhe conferiu um lugar entre os maiores dessa escola, na Itália. Engajou-se numa luta existencial muito particular, mas não deixava de vibrar com a possibilidade de se conhecer o universo. Compreendeu que a ciência poderia facilitar a integração do homem-natureza, indivíduo-sociedade. Seu pessimismo é, por isso, considerado também consequência de um confronto entre as limitações do homem e a vastidão do universo. Tido como maior lírico da literatura italiana, fez uma poesia repleta de imagens puras, utilizando a palavra como uma sutil arma para dar vitalidade aos temas. Coerente nas contradições de sua vida e obra, amou e desprezou o mundo.