mausoleu-3209 de julho de 2015
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São Paulo e Campinas sofrendo bombardeios aéreos; o Porto de Santos bloqueado por navios de guerra; cidades dos vales do Paraíba e do Ribeira sofrendo ataques de artilharia; e trincheiras repletas de soldados cavadas nas divisas do estado. Tudo isso, hoje algo impensável, aconteceu faz 83 anos. A Revolução de 32 não é um mero registro histórico. Foi algo que afetou milhões de pessoas e ainda assombra imaginações e o imaginário. Na capital, os monumentos e os nomes de ruas e avenidas deixam isso claro. Na região próxima ao Parque do Ibirapuera ficam tanto o Monumento às Bandeiras, do escultor Victor Brecheret, como o Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32 (foto), de Galileo Ugo Emendabili. E aos locais se chega pela Avenida 23 de Maio, uma das datas importantes do movimento.

 

Ironicamente, a Fundação Getúlio Vargas fica próxima à avenida batizada com a data do início do levante, a 9 de Julho. Mas São Paulo continua sendo resistente a usar o nome do ditador. Não há o equivalente à importante Avenida Presidente Vargas, do Rio de Janeiro, por exemplo. Vargas foi quem provocou a coisa, afinal, com a derrubada do presidente Washington Luís, em outubro de 1930. Ele até foi bem recebido no estado a caminho da capital, então o Rio de Janeiro. Mas logo começou a bater de frente com os políticos paulistas, saudosos do poder que tinham na República VelhaPor exemplo, Vargas nomeou como “interventor” (no lugar do governador) o tenentista pernambucano João Alberto Lins de Barros.

 

pedro-de-toledo in1Só em março de 1932 Vargas nomeou um interventor mais ao gosto dos paulistas, um civil e nativo do estado, o diplomata aposentado Pedro de Toledo (foto). Mas, ao mesmo tempo, o ditador quis mandar no comando da Força Pública (como era chamada a hoje Polícia Militar). A Força Pública era um trunfo particularmente importante, pois constituía um verdadeiro exército em menor escala, dotada de armas como metralhadoras. Os políticos e os militares envolvidos na conspiração contra Vargas foram ineptos. Deflagraram o movimento antes da hora, sem articular ações eficazes com potenciais revoltosos em outros estados, especialmente Minas Gerais e Rio Grande do Sul. São Paulo, com pequeno apoio de Mato Grosso, ficou isolado.

 

A melhor estratégia seria concentrar forças no Vale do Paraíba e rumar ao centro do poder, o Rio de Janeiro. Em vez de fazer isso, os líderes paulistas preferiram ficar na defesa. Já a estratégia do ditador foi correta. Isolou São Paulo por terra e por mar, e diplomaticamente. As principais frentes de combate estavam todas vinculadas a ferrovias e rodovias. É por isso que os famosos trens blindados foram tão importantes no conflito. Os dois lados tiveram centenas de mortos. Não houve batalhas espetaculares. Era mais razoável fugir ou se render do que lutar até a morte em uma guerra “entre irmãos”. Uma batalha podia ter dez mortos, 30 feridos e 400 prisioneiros. Vargas venceu em 32, mas houve a Constituinte em 1934 (que ele já tinha prometido antes da revolta). Os líderes paulistas foram exilados, mas por pouco tempo. Vargas deu um golpe de estado em 1937, mas o legado de 32 permaneceu e foi importante no debate ideológico subsequente e que vem até hoje.

 

Em 80 anos, muita tinta foi usada para descrever a Revolução de 1932. É possível identificar pelo menos três fases. Houve uma primeira onda de textos, principalmente de origem paulista (e incluindo livros de memórias), exaltando os ideais democráticos do levante. Em seguida, uma leva posterior, de origem marxista, ressaltando a ideia de que tudo não passou de uma briga entre grupos da “classe dominante”, e sempre que foi necessário os “proletários” foram perseguidos. Novos pesquisadores tentam entender o caráter multifacetado do evento, identificando uma participação popular inédita na história.

O historiador Marco Antonio Villa deixa claro que a “questão democrática” foi “a grande herança política da revolução, uma espécie de tesouro perdido, muito valioso, especialmente em um país marcado por uma tradição conservadora, elitista e antidemocrática”.

 

 



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