A proclamação da república no Brasil se deu no dia 15 de novembro de 1889.
O movimento foi resultado de uma conjugação de forças do Exército, dos fazendeiros do oeste paulista e de representantes das camadas médias urbanas. Seu sucesso se deveu em parte ao enfraquecimento das oligarquias tradicionais (que perdiam para o setor cafeeiro a liderança da economia) e ao desprestígio da monarquia. Essas forças, unidas no movimento republicano, revelariam mais tarde suas divergências, através dos conflitos que se seguiriam durante a Primeira República.
A grande transformação possibilitada pela república foi a ascensão das novas oligarquias baseadas na prosperidade do ciclo cafeeiro. Não houve maiores mudanças na estrutura do poder, à qual as camadas urbanas ficaram sem acesso. As condições de vida no campo, o caráter da economia (baseada no setor agrário exportador) e a dependência em relação aos mercados e capitais externos continuariam a existir.
Historicamente, o Visconde de Ouro Preto, que assumiu o ministério em junho de 1889, tentou salvar a monarquia. Para “sustar a torrente de ideias falsas e imprudentes”, que levariam à queda do regime, iniciou um programa de reformas (na verdade, uma extensão do programa liberal de 1869). Propunha liberdade de culto, extinção da vitaliciedade no Senado Federal, criação de um código civil e autonomia para os municípios e províncias. Tudo isso, mas sem a proposição direta da federação. Para muitos, porém, essas reformas equivaliam ao “começo da república”.
Esperando corresponder à pressão de setores importantes da nação — para os quais, entretanto, essas reformas pareciam insuficientes —, o governo teve de enfrentar os protestos dos setores tradicionalistas que dominavam os meios parlamentares e jugavam essas reformas muito radicais. As oligarquias dominantes deixavam bem clara a sua recusa, já que a reforma, levada às últimas consequências, atingiria finalmente suas bases. A polêmica chegou a um tal nível que, em 17 de junho, o governo dissolveu a Câmara dos Deputados. Depois disso, Ouro Preto ainda tomou uma série de medidas que desagradaram aos militares, enquanto corriam boatos de que o governo adotaria decisões mais duras para se preservar. O chefe do governo conseguira, portanto, se tornar impopular em quase todas as áreas.
Nessa situação de crise e inquietação geral, membros do Partido Republicano de São Paulo e do Rio de Janeiro sondavam os militares, pedindo-lhes que se pusessem à frente de um movimento contra o governo. No dia 11 de novembro, Rui Barbosa, Benjamin Constant, Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva e Francisco Glicério procuraram o marechal Deodoro da Fonseca (que se destacara nos incidentes da Questão Militar, ganhando popularidade) e tentaram convencê-lo a participar de uma conspiração contra a monarquia. No entanto, ele hesitou, não querendo trair o imperador. Mesmo assim, os conspiradores levaram avante os planos de um golpe contra o governo, que seria desfechado no dia 20.
Entretanto, na madrugada do dia 15, quando muitos dos conspiradores dormiam placidamente, surgiu grande inquietação nos quartéis do Rio de Janeiro, ante o boato de que Quintino Bocaiúva e Aristides Lobo teriam sido presos e de que os próximos seriam Benjamin Constant (o grande líder republicano entre os militares) e Deodoro da Fonseca. Tomando os boatos por verdadeiros, o 1.º Regimento se colocou em rebeldia contra o governo. Avisado, Ouro Preto comandou a resistência, seguindo para o Quartel General e convocando todo o ministério. Mas os conspiradores também eram avisados. Os alunos da Escola Militar (onde Benjamin Constant era professor muito considerado) aderiram ao movimento dos rebeldes. Constant saiu às ruas, apoiado pelas tropas do Quartel de São Cristóvão. Encontrou-se com o Marechal Deodoro, que, embora adoentado, colocou-se à frente dos rebeldes. E o Quartel General foi rapidamente cercado.
O marechal Almeida Barreto assumira a chefia do quartel a mando de Ouro Preto, mas, ao defrontar-se com Deodoro, acabou cedendo e declarando-lhe o apoio. Ouro Preto não se rendeu, esperando que Deodoro invadisse o quartel — o que aconteceu sem incidentes. Depunha-se o ministério. No mesmo dia, a proclamação da república foi assinada por Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório, e por Aristides Lobo (ministro do Interior), Benjamin Constant (ministro da Guerra), chefe de esquadra Eduardo Wandenrolk (ministro da Marinha), Quintino Bocaiúva (ministro das Relações Exteriores e, interinamente, ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas).
A proclamação declarou extinto o sistema monárquico e a instalação do governo provisório, preservando órgãos e funcionários da Justiça e da administração civil e militar, mas declarando abolidos o Conselho do Estado e a vitaliciedade do Senado Federal e ainda dissolvia a Câmara dos Deputados. O documento terminou com a frase: “O governo provisório reconhece e acata os compromissos nacionais contraídos durante o regime anterior, os tratados subsistentes com as potências estrangeiras, a dívida pública externa e interna, contratos vigentes e mais obrigações legalmente estabelecidas”. No mesmo dia, o primeiro decreto do “governo provisório dos Estados Unidos do Brasil” proclamou a república federativa como forma de governo e a transformação das províncias em estados.