O golpe de estado no Chile ocorreu no dia 11 de setembro de 1973.
A agonia dos simpatizantes do então presidente Salvador Allende começou logo pela manhã quando os aviões-caça Hawker Hunter do exército bombardearam o Palácio de La Moneda. À tarde, o presidente, percebendo que não tinha escapatória, suicidou-se. O golpe, liderado pelo general Augusto Pinochet, que assumira o comando do exército com as bênçãos do próprio presidente, causou a morte ou o desaparecimento de pelo menos quatro mil pessoas. Oficialmente, quatro brasileiros foram mortos pela ditadura chilena. De acordo com os brasileiros que conseguiram voltar ao Brasil, as cenas do golpe de estado foram de horror.
Salvador Allende chegou ao poder em 1970 com os votos de apenas 36% da população chilena. Ele era o candidato da Unidade Popular (UP), uma coalizão de esquerda que reunia o seu Partido Socialista, o Partido Comunista e outros menores. Ele não obteve, portanto, mais da metade dos votos, exigência constitucional para tomar posse sem uma segunda eleição, indireta no Congresso Nacional. A contragosto, para obter os votos necessários, negociou o apoio do Partido da Democracia Cristã (PDC), de centro-esquerda. Já desconfiados da tendência totalitária do presidente, os líderes deste partido exigiram que ele assinasse um documento se comprometendo a seguir fielmente a Constituição da República e a manter a liberdade de imprensa.
Sem a menor intenção de cumprir o acordo, Allende assinou o documento e obteve o apoio necessário para ser confirmado como presidente. Empossado, deu seguimento ao projeto radical que arquitetara. Reatou relações diplomáticas com Cuba uma semana depois da posse. Os ditadores cubanos já eram seus conhecidos, pois ele era fervoroso apoiador da Revolução de 1959 e, em janeiro daquele ano, se reunira com Che Guevara e Fidel Castro na ilha. A reforma agrária passou a ser implantada com a ajuda de grupos paramilitares armados e treinados em Cuba. As propriedades rurais eram invadidas e, dias depois, registradas como terras do estado. Fábricas foram desapropriadas por militantes e entregues aos operários.
Em pouco tempo, abriu-se um enorme abismo entre as posições radicais do presidente e a maioria da população que não votara nele nas eleições diretas. O clima de incerteza legal e a ausência de garantia aos investidores levaram o país à paralisação. A produção nacional despencou. Como resultado, o país foi afetado pelo desabastecimento de produtos e pela inflação, que chegou a 283,4% entre julho e agosto de 1973. À insatisfação popular se juntou a reação externa produzida pela estatização do ramo chileno da empresa de telefonia americana IIT. Os Estados Unidos, que até então se limitavam a apoiar as iniciativas de focos militares golpistas, decretaram embargo às exportações de cobre e de manufaturados chilenos. A situação econômica ficou insustentável.
No campo político não era diferente. A aliança do presidente com os moderados democratas cristãos se transformara numa surda luta pelos espólios do poder — cada lado apostando na derrocada do outro. O governo já estava derrotado. Simplesmente não havia condições para a implantação do socialismo no país, nem pela via pacífica, nem pela via da insurreição, segundo está escrito no livro Fórmula Para o Caos, do historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira. Salvador Allende cavou a própria desgraça e deu espaço aos militares golpistas liderados por Augusto Pinochet. Em 11 de setembro de 1973, o presidente já era um governante cego pela ideologia e pelo radicalismo. Quando o golpe foi iniciado, ele, completamente só, se fechou numa sala e deu um tiro na própria cabeça.