Barão de Mauá
IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA nasceu no dia 28 de dezembro de 1813, na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, Rio Grande do Sul. Morreu no dia 21 de outubro 1889, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro.
Com a morte do seu pai em 1818, a família empobreceu rapidamente. Era época em que a fronteira sul assistia à campanha militar que terminou com a incorporação ao Brasil da Província Cisplatina (atual Uruguai), em 1821. Neste mesmo ano, a mãe se casou novamente. Ele, então, foi confiado a um tio. Internado num colégio de São Paulo, de 1821 a 1823, partiu em seguida para o Rio de Janeiro, onde iniciou árdua escalada. Com 13 anos já era empregado de confiança do comerciante português Antônio José Pereira de Almeida, que tinha sido prejudicado com a invasão do mercado pelos produtos ingleses, beneficiados pelas baixas taxas aduaneiras desde a abertura dos portos em 1808.
Em 1829, os bens do comerciante passaram para o seu maior credor — o inglês Ricardo Carruthers —, para quem ele começou a trabalhar. Aos 23 anos, tornou-se sócio-gerente da firma Carruthers & Cia. Em 1839, o patrão voltou para a Inglaterra e ele ficou então à frente de um próspero negócio de importação e exportação, que dirigiu até 1845, acumulando considerável fortuna pessoal. Embora fosse temperamental e avesso ao convívio social, sua dedicação aos subordinados os transformou em grandes amigos. Sua fama de dar abrigo aos negros foragidos fez com que se tornasse antipático frente aos senhores de escravos. Contra ele, havia também ressentimentos por parte do governo, pois se dizia que, além de ter dado alimentos para os prisioneiros da Guerra dos Farrapos, contribuíra para a fuga de líderes revolucionários que estavam presos no Rio de Janeiro.
Em 1840, viajou à Inglaterra e se impressionou com as fábricas que formavam a paisagem inglesa do fim da Revolução Industrial. Numa fundição, certificou-se de que a indústria que manipula os ferros “é a mãe de todas as outras”. De volta ao Brasil, com planos definidos, encontrou perspectivas favoráveis, graças à política alfandegária do governo. Depois de obter a concessão do fornecimento de tubos para a canalização do Rio Maracanã, no Rio de Janeiro, adquiriu uma pequena fundição em Ponta da Areia, em Niterói, da qual fez um estaleiro de construções navais. Nos 11 anos que se seguiram a 1850, dali saíram 72 navios destinados ao transporte de tropas na Guerra do Paraguai e à cabotagem comercial ao longo da costa brasileira. Junto com comerciantes de sua província natal, fundou também a Companhia de Rebocadores da Barra do Rio Grande. Criou, em 1852, a Companhia de Navegação a Vapor do Rio Amazonas, que estendeu rotas de quase quatro mil quilômetros sobre o Amazonas e mais de 1 300 quilômetros sobre o Tocantins e outros rios da região.
Em 30 de abril de 1854, recebeu o título de Barão de Mauá. Para levar a cabo suas ideias ferroviárias, ultrapassou vários obstáculos. Para estender os trilhos até as margens do Rio Parnaíba, obteve auxílio do governo. Em 1873, chegaram as primeiras cargas de Minas Gerais para serem transportadas pela Estrada de Ferro Dom Pedro II (atual Central do Brasil), ferrovia inaugurada em 1858. Em 1882, quando os trilhos chegaram a Petrópolis, a ferrovia já não mais lhe pertencia, pois cedera a sua parte para pagar dívidas. Em 1862, comprou a concessão de uma linha de bondes, reestruturando a Companhia de Carris de Ferro do Jardim Botânico. Em 1872, lançou-se à realização do telégrafo submarino, entre o Brasil e a Europa. Em 22 de junho de 1874, o imperador enviava mensagens telegráficas ao papa e a outras personalidades europeias. Quatro dias depois, ele recebia o título de visconde.
É considerado pelos historiadores econômicos um empresário nato. Sua teoria financeira, formada dentro dos padrões culturais ingleses, o tornaram um típico representante do pensamento liberal. Defendia o câmbio livre e o livre comércio, contra as interferências do estado. Em sua opinião, a pluralidade dos bancos, a moeda forte e a concessão ilimitada de crédito eram fatores que permitiam que uma nação se transformasse em mercado independente. Com esses princípios, escreveu O Meio Circulante do Brasil, publicado em 1878. Definindo-se cedo contra a escravatura, concedeu inúmeras alforrias. Foi o primeiro a incluir numa proposta de serviços públicos a cláusula que obrigava o contratante a não empregar trabalho escravo. Duas coisas aparentemente opostas se ligavam à sua fé num mercado livre: sua atuação como colonizador e a sua expansão como banqueiro. O Banco Mauá & Cia. chegou a ter 19 sucursais no Brasil e no exterior (Inglaterra, Argentina e Uruguai). Em 1878, com suas empresas em situação difícil, escreveu a Exposição aos Credores e ao Público. Depois de grandes vitórias empresariais, morreu como um simples corretor de negócios de café.