cronos1CronosSaturno

Filho do Urano (Céu) e Geia (Terra), é o mais jovem dos titãs. A pedido da mãe, mutilou o pai, cortando seus testículos, e ocupou o lugar dele no trono do universo. Esposou a titânia Cibele e, com ela, teve Héstia (Vesta para os romanos), Deméter (Ceres para os romanos), Hera (Juno para os romanos), Hades (Plutão para os romanos), Poseidon (Netuno para os romanos) e Zeus (Júpiter para os romanos). Como um oráculo lhe tivesse predito que seria destronado por um dos seus filhos, ele os devorava à medida em que nasciam. Entretanto, quando Zeus nasceu, a mãe o escondeu. No lugar do filho, deu ao marido uma pedra (Abadir), que ele devorou.

Mais tarde, Zeus lhe ofereceu uma droga, que o fez vomitar todos os filhos. Auxiliado pelos outros titãs, combateu o filho mais novo. Mas, ao fim de dez anos de intensos combates, foi destronado por Zeus e preso no Tártaro (região abaixo dos infernos). De acordo com uma variante romana da lenda, teria sido expulso do Olimpo, seguindo para a região da Itália, onde foi hospitaleiramente recebido por Jano (o primeiro deus romano) e assumido o nome de Saturno. Teria se instalado no Capitólio, onde teria fundado a cidade de Satúrnia. Prosseguindo a tarefa civilizadora de Jano, ensinou aos mortais o cultivo da vinha.

De acordo com outras tradições, reinou na África, na Sicília e em todo o mediterrâneo ocidental, durante a Idade do Ouro. Quando sobreveio a Idade de Bronze, com os homens se tornando maus, voltou para o Olimpo. A tradição órfica (religião de Orfeu) o apresenta reconciliado como filho Zeus, passando a habitar a ilha dos bem-aventurados. Em sua honra, realizavam-se, no fim de dezembro, as festas saturnálias. Durante as celebrações, invertiam-se as posições sociais: os escravos davam ordens aos senhores e estes serviam os escravos à mesa. Era representado munido de uma foice. Segundo os mitógrafos, também era o deus controlador do tempo. Daí, a origem da palavra cronômetro.

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abaris in1Abáris
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Poeta cita que cantou a viagem de Apolo, deus da luz, ao país dos Hiberbóreos (povo mítico situado no extremo norte). O deus fez dele seu sumo-sacerdote, concedeu-lhe o dom da adivinhação e o presenteou com uma flecha que tinha o poder de transportá-lo pelos ares, motivo pelo qual passou a ser designado como aeróbata. Ainda segundo a lenda, que mistura realidade com ficção, Pitágoras (filósofo grego), que teria sido seu aluno, roubou-lhe a flecha. Ele teria, ainda, vendido o paládio (um atributo da deusa Palas Atena que lhe servia de talismã) aos troianos. Heródoto (historiador) diz que ele tinha viajado por todo o mundo sobre uma flecha, sem necessitar de ingerir qualquer alimento. Platão (filósofo) o descreve como um “médico trácio” que curava tanto a alma quanto o corpo através de “encantamentos”.

Pausânias (historiador) faz referência a um templo de Perséfone (divindade agrícola), em Esparta, a que teria presidido. Jâmblico (filósofo) também se refere a ele na sua Vita Pythagorica, em que diz que ele teria purificado Esparta e Cnossos, entre outras cidades, de diversas pragas. Também aparece numa cena deste mesmo livro, ao lado de Pitágoras, tentando convencer o tirano Siciliano Fálaris a se converter a uma vida de virtude, não obstante a sua obstinação perante uma discussão em que abordam temas divinos. Jâmblico ainda se refere, ao mesmo tempo em que desaprova, a sua perícia no sacrifício de animais. O Suda (compilação da antiguidade grega) atribui vários livros a ele, entre os quais um volume de Oráculos Citas em hexâmetro dactílico, uma teogonia em prosa, uma súmula sobre rituais de purificação e um relato da visita de Apolo aos Hiperbóreos.


urano in1Urano
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Entre os romanos, era o Céu. As versões sobre sua origem são as mais variadas. Alguns fazem-no filho da Noite. Outros dão-lhe Geia (Terra) como mãe. Na tradição mais corrente, figura como esposo de Geia. Com esta, teve os Titãs, os Ciclopes e os Hecatonquiros. Detestava os filhos. Logo após o seu nascimento os escondia no seio da Terra, condenando-os a viver ali para sempre. Com essa violência, suscitou a revolta de Geia , que se decidiu vingar. Reuniu os filhos e disse que um deles deveria punir o pai.

Todos se recusaram, salvo Crono (Saturno para os romanos), o mais jovem. Na noite seguinte, quando o pai se uniu à mãe, o filho, com uma foice, lhe cortou os testículos, lançando-os, em seguida, ao mar. As gotas de sangue que caíram fecundaram novamente Geia, dando origem às Erínias ou Fúrias. Dos testículos jogados ao mar surgiu uma espuma, da qual nasceu Afrodite (Vênus para os romanos).

Segundo o especialista Junito de Souza Brandão, é a personificação do Céu, enquanto elemento fecundante de Geia (Terra). Era concebido como um hemisfério, a abóbada celeste, que cobria Geia (Terra), concebida como esférica, mas achatada. Entre ambos se interpunham o Éter e o Ar. Nas profundezas de Geia, localizava-se o Tártaro, bem abaixo do próprio Hades. Do ponto de vista simbólico, o deus do Céu traduz uma proliferação criadora desmedida e indiferenciada, cuja abundância acaba por destruir o que foi gerado. Ele caracteriza, assim, a fase inicial de qualquer ação, com alternância de exaltação e depressão, de impulso e queda, de vida e morte dos projetos. Deus celeste indo-europeu, símbolo da fecundidade, é representado pelo touro. Sua fertilidade, todavia, é perigosa, além de inútil. A sua mutilação pelo filho Crono pôs fim a uma odiosa e estéril fecundidade.

reia f1ABADIR é um termo de origem fenícia que designava qualquer pedra (geralmente cônica) que se acreditava ter vindo do céu, para servir de habitação às divindades. Como eram objetos de superstições, eram veneradas pelas populações, merecendo um culto próprio. Segundo a lenda, greco-romana, era também o nome da pedra que Reia (Cibele para os romanos) disfarçou de bebê, ao envolvê-la em cueiros (roupas de recém-nascido), para enganar Cronos (Saturno para os romanos). Este, tomando-a por Zeus (Júpiter para os romanos), seu filho recém-nascido, engoliu-a, pensando estar, desta forma, eliminando aquele que o destronaria do reino do Monte Olimpo, conforme fora profetizado.

eros f1Segundo o poeta Hesíodo, Eros nasceu de Geia (Terra para os romanos) e saiu do Caos primitivo (tal como era adorado em Téspias sob a forma de uma pedra bruta). Para os órficos (religiosos tementes a Dioniso), nasceu do Ovo Primordial, engendrado pela Noite, e cujas metades, ao se separarem, formaram a Terra e o Céu. É a virtude atrativa que leva as coisas a se juntarem, criando a vida. É uma força fundamental do mundo. Assegura não somente a continuidade das espécies, como a coesão interna do Cosmos. Em torno desse tema, autores de cosmogonias, poetas e filósofos têm feito numerosas especulações.

eros in1Opondo-se à tendência de Eros um dos grandes deuses, surgiu a doutrina apresentada sob a forma de mito no Banquete, de Platão. Nessa obra, ele aparece como um Demônio (força espiritual misteriosa), intermediário entre os deuses e os homens. Segundo Platão, teria nascido da união de Poros (Recurso) e Pênia (Pobreza) no jardim dos deuses, após um festim para o qual foram convidadas todas as divindades. A esta origem deve caracteres bem significativos: sempre em busca do seu objetivo, como Pobreza, ele sabe um meio de chegar a seu alvo, como Recurso.

Longe de ser um deus poderoso, é uma força sempre insatisfeita e inquieta. Seu poder vai além da natureza viva e animada. Ele aproxima, une, mistura, multiplica várias espécies de animais, de vegetais, de minerais, de líquidos, de fluídos — em uma palavra, toda a criação. É, pois, o deus da união, da afinidade universal. Nenhum outro ser pode se furtar à sua influência ou à sua força.

Com o tempo, surgiram várias outras genealogias para o deus. Umas afirmam ser ele o deus do Amor, filho de Hermes (Mercúrio para os romanos) e Artémis (Diana para os romanos). Outras lhe dão como pais Ares (Marte para os romanos) e Afrodite (Vênus para os romanos), enquanto filha de Zeus e Dione. Nesse caso, chamar-se-ia Anteros. Quer dizer, Amor Contrário ou Recíproco.

Todavia, aos poucos, sob a influência de poetas, ele se fixou e tomou sua fisionomia tradicional. Passou a ser apresentado como um garotinho louro, normalmente com asas. Sob a máscara de um menino inocente e travesso, esconde-se um deus perigoso, sempre pronto a traspassar com suas flechas certeiras, envenenadas de amor e paixão, o fígado e o coração de suas vítimas. Veja, abaixo, uma ode do poeta lírico grego Anacreonte (século VI a.C.):

eros in2Um dia, lá pela meia-noite,
Quando a Ursa se deita nos braços do Boieiro,
E a raça dos mortais, toda ela, jaz, domada pelo sono,
Foi que Eros apareceu e bateu à minha porta.

Quem bate à minha porta e rasga meus sonhos?
Respondeu Eros: “Abre”, ordenou ele;}
Eu sou uma criancinha, não tenhas medo.”
“Estou encharcado, errante, numa noite sem lua”. 

Ouvindo-o, tive pena;
De imediato, acendendo o candeeiro,
Abri a porta e vi um garotinho:
Tinha um arco, asas e uma aljava.

Coloquei-o junto ao fogo
E suas mãos nas minhas aqueci-o,
Espremendo a água úmida
Que lhe escorria dos cabelos.

Eros, depois que se libertou do frio:
Vamos” — disse ele — “experimentemos este arco”.
Vejamos se a corda molhada não sofreu prejuízo”.
Retesa o arco e fere-me no fígado,
Bem no meio, como se fora um aguilhão.

Depois, começa a saltar, às gargalhadas:
Hospedeiro” — acrescentou — “alegra-te”.
Meu arco está inteiro”.
Teu coração, porém, ficará partido”.

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