spinosa in01Baruch Spinosa

Nasceu no dia 24 de novembro de 1632 na cidade de Amsterdam, Holanda. Morreu, vítima de tuberculose, no dia 20 de fevereiro de 1677, na cidade de Haia.

Poucos filósofos sentiram repressão histórica tão intensa quanto ele. Afastado das salas de aula, seu nome passaria a ser usado apenas para constituir exemplo negativo nas lições de teologia e filosofia. Mas, mesmo expulso do cenário “oficial” da filosofia, suas ideias acabariam influenciando a política, a religião, as artes e as ciências. Provinha de uma família castelhana de Espinoza de Los Monteros, que, em 1492, imigrara para Portugal, onde, seis anos depois, fora compelida a se tornar marrana (expressão pejorativa para designar o judeu convertido ao cristianismo, mas que ainda mantém os vínculos com o judaísmo).

Sua educação foi semelhante à de todo jovem marrano de família abastada: estudou na Escola Árvore da Vida e, entre 1646 e 1650, na Academia da Coroa da Lei. Aprendeu o hebraico e adquiriu profundos conhecimentos do judaísmo e da história do povo judeu. Os autores que mais o influenciaram nessa época foram Abraão Ibn Ezra (1092-1167), Judah Leon Abravanel, mais conhecido por Leão, o Hebreu (?-1535), e o judeu Chasdai Grescam. Em 1652, aprendeu latim e um pouco de grego, o que lhe permitiu ler os clássicos greco-latinos, entre os quais Aristóteles, Epiteto, Homero e Euclides. Com isso, viu-se cercado por dúvidas, afastando-se do judaísmo e do cristianismo.

spinosa in02Aos 24 anos, foi convocado pela sinagoga e submetido a um interrogatório que tinha por finalidade demonstrar seu ateísmo. Prevendo a expulsão, antecipou o desligamento escrevendo o opúsculo Apologia Para Justificar Uma Ruptura Com a Sinagoga. Foi finalmente afastado em 27 de julho de 1656, devido a instâncias de irmãos e cunhados interessados no aumento das respectivas parcelas da herança paterna. Suas sucessivas recusas em aceitar ajudas financeiras contribuíram para tecer em torno dele a falsa imagem de solitário enclausurado. Na verdade, participou da intensa vida política e cultural do “século de ouro” da Holanda: tinha numerosos amigos entre os calvinistas progressistas, aos quais se opunham os calvinistas ortodoxos da próspera e ascendente burguesia. Era amigo dos irmãos Johannes e Cornelius de Witt e do filósofo Gottfried Leibniz, que frequentavam sua casa.

Dedicou-se ao estudo exaustivo do humanismo clássico e de René Descartes. Seguindo a tradição dos antigos sábios, tornou-se polidor de lentes para lunetas, o que lhe assegurou estabilidade financeira e integração na vida social holandesa. Passou a residir em Haia em 19670, ano em que publicou o Tratado Teológico-Político. Em 1673, recusou-se a deixar a cidade para lecionar filosofia em Heidelberg, porque o convite lhe tirava a possibilidade de criticar livremente a religião e o estado. Em 1675, o desejo de publicar Ética o levou a viajar pela última vez a Amsterdam. Porém, desistiu do intento porque ainda pesavam sobre ele as acusações dos teólogos de que seria “ateu, blasfemador e elemento nocivo à república”.

Sua filosofia pode ser vista a partir de dois aspectos gerais: o racionalismo e o imanentismo. O primeiro o levou a uma crítica profunda às ideias que dominavam o espírito do homem ocidental e, consequentemente à ruptura com as filosofias anteriores e à oposição às religiões existentes. Distinguiu-o ainda de Descartes e Leibniz, em cujas filosofias subjaziam alguns mistérios. Finalmente, garantiu-lhe a construção de um sistema filosófico despojado de milagres, acasos, mistérios e quaisquer elementos que pudessem conduzir ao irracionalismo. O imanentismo, por outro lado, foi responsável pela extensão do racionalismo a todos os aspectos da realidade, instalando, assim, a coerência absoluta em toda a sua filosofia: Deus não é concebido como um elemento transcendente à natureza, mas imanente a ela; o conhecimento é imanente ao homem; o critério de verdade é imanente ao próprio conhecimento, dispensando qualquer garantia dada por um elemento intrínseco a ela.


 

 

 



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