Segundo a mitologia grega, o estado primordial, primitivo do mundo, é o Caos. Era, segundo os poetas, uma matéria que existia desde os tempos imemoriais, sob uma forma vaga, indefinível, indescritível, na qual se confundiam princípios de todos os seres particulares. O Caos era ao mesmo tempo divindade, por assim dizer, rudimentar, capaz, porém, de fecundar. Gerou primeiro a Noite e, depois, o Érebo.
A Noite, deusa das trevas, filha do Caos, é, na verdade, a mais antiga das divindades. Certos poetas a consideram como filha do Céu e da Terra. Hesíodo dá-lhe um lugar entre os titãs e o nome de Mãe dos Deuses, porque sempre se acreditou que ela e as trevas haviam precedido todas as coisas. Desposou Érebo, seu irmão, de quem teve o Éter e o Dia. Mas, sozinha, sem se unir a nenhuma outra divindade, procriou o inevitável e inflexível Destino, a Parca Negra, a Morte, o Sono, a legião dos Sonhos, a Miséria, as Hespérides, guardadoras dos pomos de ouro, as desapiedadas Parcas, a terrível Nêmesis, a Fraude, a Concupiscência, a triste Velhice e a obstinada Discórdia. Em resumo: tudo quanto há de doloroso na vida passa por ser obra da Noite.
Algumas vezes lhe dão os nomes gregos de Eufrone e Eulália — mãe do bom conselho. Há quem marque o seu império ao norte do Ponto-Euxino, no país dos Cimérios (atuais Rússia e Ucrânia). Mas a situação geralmente aceita é numa parte da Espanha, a Esméria, na região do poente, perto das colunas de Heracles (Hércules para os romanos), limites do mundo conhecido dos antigos. Quase todos os povos da Itália viam a Noite como uma deusa. Mas para os habitantes da Bréscia era um deus chamado Noctulius ou Nocturnus. O mocho que se vê aos pés desse deus, segurando um facho derrubado que ele se esforça por apagar, anuncia o inimigo do dia.
Nos monumentos antigos vê-se a deusa Noite, ora com um manto volante, recamado de estrelas, por cima de sua cabeça, ou um outro manto azul e acorte derrubado, ora representado por uma mulher nua, com longas asas de morcego e um fanal na mão. Representam-na também coroada de papoulas e envolta num grande manto negro, estrelado. Às vezes num carro arrastado por dois cavalos pretos ou por dois mochos, cobrindo-se a cabeça com um véu semeado de estrelas. Muito frequentemente colocam-na no Tártaro, entre o Sono e a Morte, seus dois filhos. Algumas vezes, um menino a precede, empunhando uma tocha — símbolo do crepúsculo. Os romanos não a punham em carro e representavam-na ociosa e adormecida.