saturno in1Saturnália

Era um festival romano em honra ao deus Saturno (Cronos para os gregos), que ocorria no mês de dezembro, no solstício de inverno. Tinham início com grandes banquetes e sacrifício. Os participantes tinham o hábito de saudarem-se com io Saturnalia, acompanhado por doações simbólicas. Durante estes festejos subvertia-se a ordem social: os escravos se comportavam temporariamente como homens livres; elegia-se, à sorte, um princeps — uma espécie de caricatura da classe nobre — a quem se entregava todo o poder. Na verdade a conotação religiosa da festa prevalecia sobre aquela social e de classe.

O princeps vinha geralmente vestido com uma máscara engraçada e com cores chamativas, dentre as quais prevalecia o vermelho (a cor dos deuses). Segundo historiador Pierre Grimal, Saturno é um deus itálico e seu culto foi importado da Grécia para Roma, como ocorreu com diversos outros deuses. Ele teria sido expulso do Monte Olimpo por Zeus (Júpiter para os romanos) e se instalado no Capitólio, onde fundou um povo chamado Saturnia. Acredita-se também que foi acolhido por Jano (Caos para os gregos), igualmente oriundo da Grécia. Seu reinado na Região do Lácio ficou conhecido como a Idade do Ouro, pela paz e prosperidade alcançadas. Segundo os relatos lendários, nesse período o deus teria continuado a obra civilizadora de Jano e ensinou à população a prática da agricultura.

saturnalia in2Sua comemoração se iniciava no dia 17 de dezembro e durava sete dias. O imperador Otávio Augusto teria limitado sua duração a três dias, para que a justiça e a política não ficassem paradas por muito tempo. Já o imperador Caio Calígula determinou uma comemoração de cinco dias. Mas o historiador Flávio Macróbio escreveu que, mesmo assim, as festividades permaneceram acontecendo no período de uma semana. Este mesmo autor afirma que antes a celebração ocorria apenas no dia 19 de dezembro, mas com a reforma do calendário juliano (durante o governo de Júlio César), que acrescentou dois dias ao calendário, passou a para o dia 17. Isso levou ao aumento de dias de comemoração, já que a data exata não ficou conhecida por toda a população.

Em seus significados, as festas reuniam as comemorações pelo fim do ano agrário e religioso, somados também ao fim de um ano “velho” e início de outro novo, enchendo os romanos de esperanças e expectativas quando as próximas colheitas e o ano que começava. Além disso, rememoravam os tempos da Idade de Ouro, em que havia abundância e igualdade. Era uma festividade bastante comemorada, sendo uma das mais populares em Roma. Afinal, a agricultura era a atividade que estava na base dessa sociedade — meio de subsistência para os camponeses e fonte de renda para a elite. Essa comemoração é considerada um festival civil e social, de acordo com a divisão que segue o caráter dos ritos proposta pelo cientista francês Jean Bayet. Durante sua comemoração faziam-se sacrifícios a Saturno.

A estátua do  templo do deus tinha, simbolicamente, fios de lã retirados dos seus pés para representar a libertação dele. Depois dos sacrifícios, tinha início o banquete público, que parece ter se iniciado em 217 a. C, segundo o historiador Tito Lívio. Banquetes em que a imagem do deus Saturno era colocada junto à mesa — lectisternium — também podem ter ocorrido. Dava-se início, então, às festas e divertimentos. Segundo Macróbio, em sua obra As Saturnálais, os assuntos mais sérios deveriam ser tratados na parte da manhã e à noite. Durante o banquete, enquanto bebiam, deveriam falar dos assuntos mais leves e levianos. Esses dias deveriam ser de alegria. Faziam-se piadas e jogos de azar eram realizados pelas ruas, os quais eram proibidos no restante do ano. Um costume comum na Saturnália era visitar os amigos e trocar de presentes.

Os presentes eram pequenas figuras de terracota ou prata ou ainda velas de cera, representando a luz na escuridão. Quem também escreveu sobre essa prática foi o satirista Marco Valério Marcial, que escreveu dois livros, Xenia e Apophoreta, com dedicatórias para acompanhar presentes. O que muitos autores destacam é a inversão da ordem durante a comemoração em honra a Saturno. Todos os homens, escravos ou cidadãos, ficavam em igualdade. As barreiras jurídicas eram ficticiamente abolidas. Os escravos, portanto, não precisavam trabalhar, podiam se vestir como seus senhores, participar das refeições e jogar dados. Os tribunais eram fechados e com a consequente ausência de leis, não estariam transgredindo a ordem de fato. Essa inversão de valores teria ocorrido apenas na República.

saturnalia in3Os soldados travestidos escolhiam o rei das saturnais dentre os condenados, através de dados. Este rei usaria as insígnias de sua dignidade como o rei dos gracejos e deboches. Após o festival o rei é morto e tudo volta à ordem. A Saturnália foi comemorada até a Era Cristã, mas com o nome de Brumália (ocorria no início do inverno e era uma das festas em honra ao deus do vinho Baco). Em meados do século IV, teria sido absorvida pela comemoração do Natal, havendo uma continuidade na prática da troca presentes oriundas do festival. Alguns autores também defendem a hipótese sobre haver uma relação entre essas festas e as comemorações do carnaval, devido ao caráter de inversão da ordem social ocorrido nos dias de festividades.


 

 



© 2017 Tio Oda - Todos os direitos reservados