Spessoto
A “Calçados Spessoto”, quarta maior fábrica de Franca em 1945, foi iniciada em 1924 pelo oficial de sapateiro Pedro Spessoto, com cinco contos de réis, o equivalente a apenas 550 dólares. Quase dez anos depois, em 1933, o capital da empresa era ainda de 37 contos (cerca de 3.240 dólares), saltando para 200 contos em 1934 (cerca de 17.500 contos). Subtende-se, dessa surpreendente elevação de capital, que a empresa tenha sido significativamente modernizada, pois o número de operários aumentou de 16 para 42.
Em 1928, a Spessoto adquiriu um pequeno curtume — o Santa Cruz — e possivelmente a ampliação da empresa tenha a ver com o aumento dos lucros, já que expandiu a sua área de atuação, assim como do fluxo de couros a sua fábrica. A origem humilde do Pedro Spessoto é notória. Nascido em 1888, na cidade paulista de Araras, numa família de sete irmãos, ficou órfão de pai aos nove anos. Era filho do imigrante italiano Giuseppe Spessoto, natural de Treviso e trabalhador rural na fazenda Boa Vista, em Ribeirão Preto.
O inventário do Giuseppe não apresenta nada além de meros 3:800$000, quantia em dinheiro correspondente a pouco mais de 800 dólares em 1897, quando faleceu. A infância difícil do Pedro pode ser deduzida do fato de que nem mesmo o modesto pecúlio deixado pelo pai pôde ser usufruído pela família. Em 1916, dezenove anos depois da morte do marido, Giovanna Freganezzi, reclamava na justiça para reaver o dinheiro do espólio, pois, tendo-o cedido ao filho mais velho para que ele montasse uma padaria, declarava: “até o presente o seu referido filho, Antonio Spessoto, não tem querido restituir esta importância para ser inventariada entre a suplicante e os mais herdeiros do casal”.
Em face das dificuldades, em 1901, Pedro Spessoto começou a trabalhar como ajudante na selaria e oficina de sapateiro de seu cunhado, Donato Ferrari, onde, dez anos mais tarde, foi admitido como sócio. Não há como negar que a atividade de artesão do couro esteja indelevelmente vinculada ao surgimento desta, que foi uma das maiores e mais importantes fábricas de calçados de Franca, tão expressiva que despertou a atenção do Grupo Vulcabrás, de capital franco-suíço, para o qual foi vendida na década de 1970, após a morte precoce do herdeiro da empresa, Yvo Spessoto, em 1971. A fábrica sobreviveu até a década de 1990. Nesse período passou a fabricar sapatos finos, inclusive para a grife francesa Yves Saint Laurent (fonte: Arquivo do Estado de São Paulo).