17/11/2013 — Morreu nesta data, aos 94 anos, a escritora iraniana (naturalizada britânica) Doris Lessing. Segundo seus editores, morreu em casa, tranquila. Ao longo da carreira, escreveu cerca de 60 livros, entre contos, memórias, romances e até incursões pela ficção científica. Em todos eles, elegeu como temas a crítica ao poder, o preconceito racial, os direitos das mulheres e uma investigação profunda da psique humana. Pelo conjunto da obra, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2007. Ao justificar sua escolha, a Academia Sueca disse que a escrita da autora foi marcada “pelo ceticismo e pelo poder visionário”, além do modo contundente como lidava com as questões que abordava.
DORIS MAY TAYLER nasceu no dia 22 de outubro de 1919, na localidade de Kermanshah, Irã. Foi criada na Rodésia do Sul, hoje Zimbábue. Após uma infância povoada pela leitura de autores como Charles Dickens e Rudyard Kipling, casou-se com 19 anos. Mas, pouco depois, deixaria o primeiro marido e iniciaria um romance com Gottfried Lessing, que conheceu no âmbito do Left Book Club, grupo de comunistas e socialistas ligados à literatura. Ao completar trinta anos, no entanto, e perceber-se desiludida com o movimento comunista, mudou-se para a Inglaterra com o filho mais velho. E foi já em Londres que iniciou sua carreira literária. Em 1949, lançou A Canção da Relva, livro de caráter autobiográfico, no qual fala de seus pais, fazendeiros na África (a obra mais tarde seria adaptada para o cinema).
Foi com seu quarto livro — O Carnê Dourado —, no entanto, que definiria o tom ácido e seco de sua escrita, ao narrar a história de Anna Wulf tocava não apenas na condição das mulheres como fazia críticas ao partido comunista britânico. Nos anos de 1970, ela iniciou a publicação da série de ficção científica Canopus, que tinha o objetivo de, ao falar de outros mundos, refletir sobre a condição do nosso tempo. A série é composta de quatro livros que estão entre seus mais célebres e vendidos no mundo. Nos anos de 1980, em livros como The Good Terrorist, The Wind Blows Away e The Fifth Child, ela voltaria a temas como o ativismo político. Obras polêmicas seriam a tônica nos anos seguintes.
No Brasil foram publicadas as obras Amor, de Novo, em que narra os sentimentos de uma mulher que suspendera voluntariamente sua vida amorosa; O Sonho Mais Doce, em que faz uma crítica ao que julga ter dado errado no século XX; As Avós, relato sobre duas amigas inseparáveis; Debaixo da Minha Pele, primeiro volume de sua autobiografia; e Alfred & Emily, no qual tenta entender como foram seus pais. Depois de sua morte, espera-se que outras obras sejam redescobertas e publicadas. Em 2013, foi lançado o filme Amor Sem Pecado, baseado em sua novela Adore. Com direção de Anne Fontaine e com Naomi Watts como protagonista, o filme não teve repercussão mundial.