aussaresses1Paul Aussaresses
O general francês Paul Aussaresses, que defendeu abertamente o recurso da tortura na Guerra da Argélia (1954-1962) e foi acusado de treinar militares latino-americanos, morreu na terça-feira (03/12/2013), aos 95 anos. Sua morte foi anunciada pela associação de ex-paraquedistas Qui ose gagne (Quem ousa ganha) e confirmada pouco depois por sua mulher, Elvira. Aussaresses, que serviu como adido militar da França no Brasil durante o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979), morreu numa casa de repouso na qual ingressara após uma hospitalização.

Nos anos de 1960, o general francês havia ensinado no campo dos boinas verdes de Fort Bragg, no estado americano da Carolina do Norte, “as técnicas da Batalha de Argel” relativas especialmente à tortura. O general chileno Manuel Contreras — fundador da Dina, a polícia política do regime de Augusto Pinochet — atribuiu a ele o treinamento, no Brasil, de oficiais do Chile e de outros países latino-americanos. As declarações foram registradas no documentário Esquadrões da Morte, a Escola Francesa, da cineasta Marie-Monique Robin. O general, que comandou os serviços de inteligência franceses em Argel durante a guerra, foi condenado por apologia à tortura no fim de um longo processo na França.

aussaresses2Em 2001, o oficial tinha admitido em seu livro Services Spéciaux, Algerie 1955-1957 (Serviços especiais, Argélia 1955-1957) que havia praticado tortura, afirmando que o procedimento era “tolerado, quando não recomendado” pelos políticos de seu país. Ele sustentava que a tortura “torna-se legítima quando a urgência se impõe”. “Era raro que os presos interrogados durante a noite continuassem vivos ao amanhecer. Falassem ou não, eles (os detentos) eram geralmente neutralizados”, acrescentou. Suas confissões nos anos 2000, acompanhadas de uma entrevista, provocaram uma tempestade política na França. O então presidente Jacques Chirac, que serviu como tenente na Argélia, declarou-se “horrorizado” pelas declarações.

Nascido em 7 de novembro de 1918 em Saint Paul Cap de Joux, no sudoeste da França, o general foi a Londres para se alistar nos serviços secretos franceses em 1941, quando nazistas ocupavam seu país. Participou da criação do braço da inteligência francesa no exterior e serviu em seguida nas forças francesas na Indochina, como chefe de um batalhão de paraquedistas. Em 1957, recebeu ordens para restabelecer a ordem em Argel - onde dirigiu o que ele mesmo chamou de “um esquadrão da morte”, encarregado de fazer detenções noturnas, seguidas de torturas e eventuais assassinatos. Mais tarde, lecionou em Fort Bragg, antes de assumir, em 1966, o comando do Primeiro Regimento de Caçadores Paraquedistas. Sempre sustentou que suas ações tiveram o aval de seus superiores hierárquicos e das autoridades políticas.


 

 

 



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