Afonso III
AFONSO III, O BOLONHÊS nasceu no dia 5 de maio de 1210, na cidade de Coimbra. Morreu no dia 16 de fevereiro de 1279, na cidade de Lisboa.
Era o segundo filho do rei Afonso II e sucedeu ao irmão, Sancho II. Como era o segundo filho, viveu na França, onde se casou com Matilde II de Bolonha, passando a servir militarmente e combatendo em nome do rei francês Luis IX, seu primo. Em 1246, os conflitos entre Sancho II e a Igreja Católica tornaram-se insustentáveis, tendo o papa Inocêncio IV ordenado a substituição do rei. Obedecendo à ordem do papa, dirigiu-se a Portugal, onde se fez coroar em 1248, após o exílio e morte do irmão em Toledo.
Até a morte do irmão e a sua consequente coroação, apenas usara os títulos de visitador, curador e defensor do reino. Para subir ao trono, abdicou de Bolonha e repudiou Matilde II para se casar com Beatriz de Castela. Decidido a não cometer os mesmos erros do irmão, o novo rei prestou especial atenção à classe média de mercadores e pequenos proprietários, ouvindo suas queixas. Por este procedimento, ficou assim conhecido também como o “pai do Estado Português", distribuindo alcaides pelos castelos e juízes pelas diferentes vilas e terras.
O objetivo era a implantação de um poder legal com o qual todos os habitantes do reino português mantivessem uma relação de igualdade. Em 1254, na cidade de Leiria, convocou a primeira reunião das cortes — assembleia geral do reino — com representantes de todas as classes sociais. Preparou uma legislação que restringia a possibilidade de as classes altas cometerem abusos sobre a população menos favorecida e concedeu inúmeros privilégios à Igreja Católica. Considerado excelente administrador, organizou a administração pública, fundou várias vilas e concedeu o privilégio de cidade através de editos de várias cartas de foro. Por sua ordem foram feitas as Inquirições Gerais, iniciadas em 1258, como forma de controlar não só o grande poder da nobreza, mas também para saber se estavam sendo usurpados os bens que, por direito, pertenciam à Coroa.
Com o trono seguro e a situação interna pacificada, voltou sua atenção para os propósitos da reconquista do sul da Península Ibérica em poder das comunidades muçulmanas. Durante o seu reinado, a cidade de Faro foi tomada com sucesso em 1249 e a região do Algarve incorporada ao reino de Portugal. Após esta campanha de sucesso, teve de enfrentar um conflito diplomático com Castela, que considerava que o Algarve lhe pertencia. Seguiu-se um período de guerra entre os dois países, até que, em 1267, foi assinado o Tratado de Badajoz que determina a fronteira luso-castelhana no Rio Guadiana desde a confluência do Rio Caia, seu afluente, até a foz.
No final da vida, viu-se envolvido em conflitos com a Igreja Católica, tendo sido excomungado em 1268 pelo arcebispo de Braga e pelos bispos de Coimbra e do Porto. O clero havia aprovado um libelo contendo quarenta e três queixas contra o monarca, entre as quais se achavam o impedimento aos bispos de cobrarem os dízimos, utilização dos fundos destinados à construção dos templos, obrigação dos clérigos de trabalhar nas obras das muralhas das vilas, prisão e execução de clérigos sem autorização dos bispos, ameaças de morte ao arcebispo e aos bispos e, ainda, a nomeação de judeus para cargos de grande importância. A agravar ainda mais as denúncias, teria favorecido monetariamente ordens religiosas mendicantes, como franciscanos e dominicanos, sendo acusado pelo clero de apoiar espiritualidades estrangeiras.
O grande conflito com o clero também se deve ao fato de ter legislado no sentido de equilibrar o poder municipal em prejuízo do poder do clero e da nobreza. Em janeiro de 1724, recebeu o apoio das cortes de Santarém. Na assembleia geral, foi nomeada uma comissão para fazer um inquérito sobre acusações que os bispos faziam ao rei. A comissão, composta majoritariamente por seus adeptos, o absolveu. O Papa Gregório X, porém, não aceitou a resolução tomada nas cortes de Santarém e mandou que o excomungasse e fosse lançado um interdito sobre o reino em 1277. À beira da morte, em 1279, jurou obediência à Igreja e procedeu à restituição de tudo o que lhe tinha tirado. Face a esta atitude, o abade de Alcobaça levantou-lhe a excomunhão e ele foi sepultado no mosteiro da localidade.