Antes de sobrevoar a fictícia cidade de Saramandaia por alguns segundos no último capítulo da novela homônima, que foi ao ar nesta sexta-feira (27/09/2013), o personagem João Gibão passou semanas parado na tela dos computadores do Centro de Pós-Produção da Globo. Nesse tempo, os responsáveis pelos efeitos visuais quebravam a cabeça para deixar as imagens impecáveis. A cena do personagem vivido por Sergio Guizé marcou o desfecho da trama. Sua edição foi feita por profissionais da emissora, que desenvolveram a tecnologia a partir de uma parceria com o Institute of Creative Technology, de Los Angeles, Estados Unidos.
Em um prédio silencioso, cheio de corredores escuros e em meio ao vai e vem de artistas no Projac, zona oeste do Rio de Janeiro, catorze profissionais se dedicaram às imagens de Saramandaia desde outubro de 2012, oito meses antes de a novela ir ao ar. A primeira etapa foi criar a cidade virtualmente. No começo deste ano, Vera Holtz, Gabriel Braga Nunes e Sergio Guizé, respectivamente, Dona Redonda, o lobisomem Aristóbulo e João Gibão, foram a Los Angeles e tiveram os corpos escaneados, procedimento comum em produções de Hollywood como O Homem de Aço. Com as imagens capturadas pelos computadores, a equipe do Brasil criou os efeitos sobrepostos nos atores ou totalmente virtuais.
Nas sequências em que Aristóbulo se transforma em lobisomem, por exemplo, parte dos efeitos foi feita a partir de imagens do ator. Em seu rosto foram adicionados pelos e seus olhos tiveram as cores alteradas. Entretanto, nas cenas em que o personagem se mexe na tela, tudo é feito digitalmente. Em outras cenas, o elenco atuou com poucas peças no cenário e o restante foi inserido em 3D. Para a cena do capítulo final, em que a casa de Zico Rosado (José Mayer) desaba, os móveis foram gravados previamente e o ator entrou num estúdio sem nenhum objeto, com fundo de chroma key (painel que permite que as imagens sejam inseridas posteriormente). Por meio de computação, o teto começou a ruir em meio a uma colagem.
Um dos desafios de pós-produção foi o render, etapa em que os computadores processam os efeitos no vídeo. Apesar de toda a movimentação e desenvolvimento de tecnologia, os efeitos são um bom negócios. Segundo os técnicos da Rede Globo, “é sete vezes mais barato do que gravar em uma locação, pois amplia o lado criativo”. Para a diretora de núcleo, Denise Saraceni, o que chamou a atenção na novela foi o desempenho dos atores, que precisavam trabalhar sem nenhum elemento no estúdio. Mesmo com o investimento pesado em tecnologia, o remake de Saramandaia teve uma média de audiência menor do que Gabriela, que ocupou a faixa das 23 horas no ano passado. A média de todos os episódios, segundo medição do Ibope, foi de quinze pontos, contra dezenove da antecessora.