04/06/2021 — Chegou às livrarias brasileiras a obra “Galileu e os Negadores da Ciência”. Trata-se de uma biografia do Galileu Galilei, escrita pelo astrofísico romeno Mário Lívio, um dos cientistas mais importantes da agência espacial americana, a NASA. É o primeiro cientista do ramo a aprofundar a análise da vida do gênio italiano, muitas vezes perseguido pela Igreja Católica por defender a tese de que a Terra girava em torno Sol, a teoria heliocêntrica. No texto biográfico, o autor traça uma análise criteriosa das inovações do Galileu. Na física, o italiano antecipou conceitos que, quase um século depois, desembocariam nas Leis de Newton. Mas, o mais importante é que ele, com jeito e diplomacia, combateu de forma direta o negacionismo existente na época.
Galileu
Galilei
Nasceu no dia 15 de fevereiro de 1564, na cidade de Pisa, Toscana, Itália. Morreu no dia 8 de janeiro de 1642, na cidade de Florença. Fez seus estudos de medicina e matemática em sua cidade natal. Interessou-se tanto pelas ciências exatas que, aos 19 anos, descobriu a lei do isocronismo das oscilações (ou lei do pêndulo). Pouco tempo depois, inventou a balança hidrostática. Em 1589, foi convidado para lecionar matemática na Universidade de Pisa. No entanto, muito cedo encontrou a hostilidade dos sábios de formação aristotélica, que não viam com bons olhos suas atividades experimentais.
Em 1592, foi convidado para dar aulas na Universidade de Pádua. Lá alimentou esperanças de prosseguir livremente nos seus estudos, pois a cidade, sob jurisdição de Veneza, tinha mais autonomia em relação à Igreja Católica do que outras cidades italianas. Na sequência, concluiu que o sistema geocêntrico exposto no Almagesto de Ptolomeu não era verdadeiro. De acordo com essa concepção, a Terra seria um ponto imóvel, rodeada de céu de todos os lados. No céu — que efetuaria um movimento rotativo em torno da Terra — estariam fixadas as estrelas, dispostas em 33 esferas, externas e internas.
A Igreja Católica acreditava ter razões para defender as ideias ptolomaicas, pois admitir que houvesse outros sistemas semelhantes à Terra ou maiores que ela seria diminuir o mérito do “criador”. Dizia-se que, conforme as escrituras, a Terra era o lugar ideal, criado por Deus para o homem, feito por ele à sua imagem. Aceitar outros mundos seria desmentir que o homem é o preferido de Deus. Isso também reduziria a autoridade do papa. Para refutar essas ideias, o cientista encontrou vários argumentos na obra de Nicolau Copérnico. Este astrônomo afirmava que os movimentos dos planetas deviam ser relacionados por um sistema de referência ligado ao Sol. Assim, a Terra efetuaria dois movimentos: um em torno de si mesma, com duração de 24 horas (rotação), e outro em torno do Sol (translação), no período de um ano.
Mesmo acreditando nisso, ele resolveu omitir por mais algum tempo as suas ideias. Em suas aulas de astronomia, continuou a expor o sistema geocêntrico, pois não tinha interesse algum em enfrentar a “verdade” sustentada pela Igreja Católica. Paralelamente, continuou seus estudos e reforçou suas convicções, graças à utilização de um telescópio, que tinha capacidade de aumentar até mil vezes a imagem. Embora estivesse relativamente protegido em Veneza, o seu espírito polêmico o conduziu a Roma. Queria convencer os sábios da igreja. Aguardando durante vários meses a decisão papal a respeito das conclusões que apresentara, acreditava mais em sua habilidade diplomática do que na possibilidade de os cardeais, pela análise, mudarem o seu ponto de vista. Após algum tempo, foi designado membro da Academia di Lincei — o conselho de cientistas mais bem visto pela igreja.
Por outro lado, não houve nenhum pronunciamento oficial acerca de suas teses. Julgando-se apoiado pela igreja, começou a publicar alguns dos seus trabalhos. Escrevia em italiano, língua do povo, e não em latim, idioma habitualmente empregado pela ciência. Esse detalhe irritou particularmente a Inquisição, pois tornava suas descobertas acessíveis a todos e ameaçava demais a autoridade de Roma. Entretanto, estimulado pelo silencio da igreja, foi mais longe: reconheceu sua posição publicamente em 1613, na obra História e Demonstrações da Máquina Solar. Em 1616, foi surpreendido por uma sentença da Inquisição: as obras de Copérnico foram proibidas. E, logo após, foi “convidado” a nunca mais divulgar o pensamento do astrônomo, sob pena de prisão. Entre 1617 e 1632, viveu em Florença, sem divulgar suas teorias. Com a eleição do cardeal Maffeo Barberini, seu amigo e protetor, para papa (Urbano VIII), acreditou que poderia expor livremente todas as suas ideias.
Foi então que escreveu e editou o livro Diálogo Sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo. No entanto, a atitude do papa — alguém que sempre se interessara por ciência — não foi aquela que esperava. Após a apreensão do livro, o autor foi “convidado” a comparecer diante da Congregação do Santo Ofício. Exigiu-se dele que abdicasse publicamente de suas ideias, consideradas heréticas. Resistiu por algum tempo, mas em junho de 1633 acabou se retratando. Não foi essa, contudo, a única penalidade que sofreu. Condenado a reclusão por tempo indeterminado, ficou em regime de prisão domiciliar numa vila toscana, onde morreu. A sua obra cobre todos os campos da física: óptica geométrica (lentes, reflexão e refração da luz), óptica física (elaborou uma teoria acerca da natureza da luz), termologia (inventou o termômetro) e mecânica (dinâmica e estática). Além disso, em decorrência do seu interesse pela física, estudou toda a matemática com ela relacionada, lançando as bases da física moderna.