Hubble Vs. Lemaitre
Tradicionalmente, atribui-se ao astrônomo americano Edwin Hubble (1889-1973) uma das mais importantes descobertas do nosso tempo: a de que o universo está expandindo e, portanto, teve um início. Há alguns meses, no entanto, historiadores amadores lançaram dúvidas sobre o mérito e até a honestidade do cientista. Eles alegaram que o cosmólogo e padre belga Georges Lemaître (1894-1966) chegou aos mesmos resultados de Hubble, publicando-os em uma revista científica do seu país em 1927. Hubble divulgaria seus resultados dois anos depois, em 1929. Só em 1931, o artigo de Lemaître foi traduzido para o inglês e publicado na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Faltavam, contudo, trechos do artigo original que comprovariam o pioneirismo do belga. Levantou-se a hipótese de que Hubble teria manobrado para alterar a tradução e garantir para si o mérito da descoberta. Mas o astrofísico Mario Livio, da equipe do telescópio espacial Hubble, resolveu limpar a honra do astrônomo americano e visitou o arquivo da Royal Astronomical Society, em Londres. Lá, descobriu uma carta de Lemaître argumentando que retiraria do artigo traduzido para o inglês alguns trechos que considerava baseados em dados antigos. Livio publicou um texto sobre a polêmica na última edição da revista Nature. Comprovou-se assim o pioneirismo de Lemaître — que, de fato, não parecia se preocupar com o reconhecimento da Academia — e a inocência do astrônomo americano.
Edwin Hubble
EDWIN POWELL HUBBLE nasceu no dia 20 de novembro de 1889, na cidade de Marshfield, Missouri. Morreu no dia 28 de setembro de 1953, na cidade de San Marino, Califórnia. Célebre por ter descoberto que as até então chamadas nebulosas eram, na verdade, galáxias fora da Via Láctea. Essas galáxias se afastavam umas das outras a uma velocidade proporcional à distância que as separa. Pela contribuição para a Astronomia, foi homenageado com o primeiro telescópio espacial, colocado em órbita em 1990. O Telescópio Hubbel estuda o espaço sem as distorções causadas pela atmosfera.
Aluno promissor, embora não excepcional na adolescência, destacou-se mais à época por feitos atléticos, como quando quebrou o recorde de salto em alturaem competição no estado de Illinois. Como seu pai (um advogado de seguros) queria, formou-se em Direito em 1910, pela Universidade de Chicago. Chegou a exercer a profissão de advogado, mas acabou por abandoná-la para seguir o interesse pela astronomia, pela matemática e pela astrofísica. Em 1914, foi aceito como pesquisador no Observatório Yerkes, em Williams Bay, Wisconsin. Dedicou-se ao estudo das nebulosas, que começou a dividir como pertencentes ou não à Via Láctea. Depois da Primeira Guerra Mundial, em 1919, voltou para os Estados Unidos e começou a trabalhar no Observatório do Monte Wilson, perto de Pasadena, na Califórnia, onde trabalharia até sua morte.
Continuou a trabalhar com as nebulosas, utilizando-se de um telescópio refletor recém-construído. A partir da relação conhecida entre período e luminosidade das cefeidas, em geral, e do brilho aparente das cefeidas de Andrômeda, em 1923 pôde calcular a distancia entre esta e a Via Láctea, obtendo um valor de dois milhões de anos-luz. Isso situava Andrômeda bem além dos limites de nossa galáxia, que tem cem mil anos-luz de diâmetro. Assim ficou provado que Andrômeda era uma galáxia independente. A descoberta passou em branco pela imprensa, mas no ano seguinte ele dividiu com um pesquisador de saúde pública um prêmio de mil dólares dado pela Academia Americana para o Avanço da Ciência. Também provou a existência de nebulosas extragalácticas constituídas de sistemas estelares independentes.
No ano seguinte, descobriu diversas galáxias e mostrou que várias delas são semelhantes à Via Láctea. A mancha luminosa no céu era na verdade um sistema estelar tão grandioso quanto aquele em que o Sol e a Terra estão situados. Depois dessas descobertas, passou a pesquisar a estrutura das galáxias e a classificá-las pelo formato, como espiral ou elíptica. Posteriormente começaria a estudar as distâncias que as galáxias se encontram da Via Láctea e suas velocidades no espaço. Em 1929, demonstrou que as galáxias se afastam em grande velocidade e que essa velocidade aumenta com a distância. A relação entre a velocidade e a distância da Terra é conhecida como a Lei de Hubble e a razão entre os dois valores é conhecida como Constante de Hubble. Este deslocamento das galáxias serviria como base, em 1946, para George Gamow estabelecer a teoria do Big Bang.
Analisando o desvio para o vermelho em suas observações, desenvolveu a teoria da expansão do universo e anunciou que a velocidade de uma nebulosa em relação a outra é proporcional à distância entre elas (a chamada constante de Hubble). Ou seja, estudou a luz emitida pelas galáxias distantes, observando que o comprimento de onda em alguns casos era maior que aquele obtido no laboratório. Esse fenômeno ocorre quando a fonte e o observador se movem: quando se afastam um do outro, o comprimento de onda visto pelo observador aumenta, diminuindo quando a fonte e o observador se aproximam. Se uma galáxia estiver se aproximando, a luz desloca-se para a cor azul e se estiver se afastando a luz desloca-se para a cor vermelha (Efeito Doppler). Em cada caso, a variação relativa do comprimento é proporcional à velocidade com que a fonte se move.
Depois ser condecorado com a medalha de ouro da Real Sociedade de Astronomia de Londres, em 1940, e com a medalha presidencial do mérito dos Estados Unidos, em 1946, passou a utilizar o Telescópio Hale, concluído em 1948, no Monte Palomar, em Pasadena, para estudar objetos estelares fracos. Faleceu em 1953, antes de completar 64 anos, vitima de uma trombose cerebral que o matou instantaneamente e sem dor, como garantiu o antigo médico da família. A esposa se recusou a fazer um funeral e a dar satisfações com o que havia feito com o corpo de seu marido.