COMPANHIA DE JESUS foi undada no dia cinco de agosto de 1534 e aprovada por Roma no dia vinte e sete de setembro de 1540. A iniciativa da fundação foi de um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderado pelo espanhol Inácio de Loyola. Eles queriam desenvolver um trabalho de acompanhamento hospitalar e missionário em Jerusalém ou em qualquer luar para onde o papa os enviasse. Nesta ocasião fizeram os votos de pobreza e castidade. Loyola escreveu as constituições jesuítas, adotadas em 1554, as quais deram origem a uma organização rigidamente disciplinada, enfatizando a absoluta abnegação e a obediência ao papa e aos superiores hierárquicos.
A ordem logo se espalhou pela Europa. Em Portugal, Dom João III pediu missionários e lhe foram enviados Simão Rodrigues, que fundou a província, e Francisco Xavier, que foi enviado posteriormente ao Oriente. Na França, tiveram a proteção do Cardeal de Guise. Na Alemanha, os primeiros foram Pedro Faber e Pedro Canísio, que foram apoiados pela Casa da Baviera. Logo estavam dirigindo colégios, ensinando em universidades e fundando congregações. A causa das perseguições contra a companhia costuma ser sua íntima união com a Santa Sé, a universalidade do apostolado e a firmeza de princípios. Os jesuítas alcançaram grande influência na sociedade nos períodos iniciais da Idade Moderna (séculos XVI e XVII). O atual papa (Francisco) pertence à ordem.
No Brasil
A importância dos jesuítas nos três primeiros séculos da história do Brasil é de tal dimensão que aos padres da ordem poderia ser dado o título de “construtores do império”. Um império tropical no qual encontraram a glória e a desgraça. Peças-chave na expansão ultramarina de Portugal no século XVI, eles chegaram ao país em 1549, integrantes do minúsculo grupo que incluía o padre Manuel da Nóbrega. Eles se meteram em boa parte do território nacional, enfrentaram a amargura da expulsão por motivos políticos, voltaram com força menor e foram imortalizados, em ilustrações, sempre a catequizar hordas de índios. Documentos encontrados na década de 1990, mostram uma faceta mais cotidiana da saga jesuítica em terras brasileiras.
Ao ordenar todo o acervo que cobre o período colonial brasileiro, historiadores encontraram manuscritos que detalham a convivência dos membros da Companhia de Jesus com os índios, com outras ordens religiosas e com as autoridades portuguesas durante quase trezentos anos. Acreditava-se que boa parte desse pacote havia sido levada para Portugal junto com a corte de Dom João VI e o acervo da Biblioteca Real, em 1821. No auge da influência da Companhia de Jesus, a troca de correspondências entre os burocratas da colônia e do império mostra a influência dos jesuítas. Eram sempre a eles que os governantes e capitães recorriam na hora de dificuldades e perigos, relatou o escrivão João Dias da Costa em 23 de março de 1664. Neste ano, o padre Antônio Vieira tinha sob a sua jurisdição 52 aldeias indígenas.
A documentação mais extensa, no entanto, é a que retrata a perseguição política contra os religiosos. Entre os processos está aquele que acusa os marqueses de Távora de atentar contra a vida do rei Dom José, em 1758. No mesmo complô foi envolvido um grupo de jesuítas. Esse foi o pretexto usado para expulsá-los dos domínios portugueses, medida decretada pelo Marquês de Pombal. A partir de 1759, quando é determinada a expulsão, a campanha virou caça às bruxas. Num dos documentos, o próprio Pombal avisa que os jesuítas se estariam disfarçando com hábitos de outras ordens para continuarem no Brasil. Foram descobertos ainda documentos que tratam do confisco de bens, como a Fazenda Nacional de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, umas maiores propriedades da Companhia de Jesus no Brasil. Nesse leva de manuscritos, o termo “jesuitismo” começou a aparecer como sinônimo de dissimulação, como está, inclusive, no dicionário Aurélio.