Na principal tradição, o Âmpelo morreu num acidente quando cavalgava um touro bravo, enlouquecido pela picada de uma mosca. As Moiras, donas da vida, da infelicidade e do infortúnio, em seguida, concederam a ele uma segunda vida. Nessa versão, é o próprio deus Dioniso que transforma o jovem sátiro num pomar de videiras. Das uvas, o deus fez o primeiro vinho que deu aos mortais. Âmpelo foi o primeiro amor do Dioniso. O jovem, ignorante da natureza divina do companheiro, superava-o em beleza. O deus, ciumento, sempre temia pela vida do amante. Os dois viveram entre os satanos e os silenos na Frígia ou na Lídia, duas regiões da atual Turquia.
Os dois companheiros eram, diariamente, confrontados em jogos, desde a luta até a caçada. Dioniso, muitas vezes, por amor, deixava Âmpelo sair-se vitorioso. Conta-se que, numa corrida, com a presença dos sátiros Leneo e Cisso, o deus interveio, detendo os adversários, para garantir a vitória do amado. Este, por outro lado, para atrair os olhos do deus, montava tigres, ursos, leões e outros animais. Por isso, Dioniso lhe teria aconselhado para se precaver contra os chifres dos touros. O deus tinha, de fato, recebido um sinal da morte iminente do companheiro. Viu, em sonhos, um dragão com chifres jogando um cervo contra as pedras de um altar, causando-lhe a morte. Âmpelo, sem saber dessa premonição, resolveu montar um touro bravo.
Aproximou-se do animal, que bebia numa nascente. Da bocarra dele surgiu um esguicho d´água. De um salto, Âmpelo já estava por sobre o touro, enfeitando a cabeça dele com narcisos e anânones. Galopando a toda velocidade, vendo a Lua, zombou da deusa Selene. Esta, como punição, enviou uma mosca de cavalo para picar o touro. O animal, enlouquecido, jogou o sátiro no ar, arremessando-o contra as rochas. Com o impacto, a cabeça dele separou-se do corpo. Dioniso, em desespero, polvilhou as feridas do amado com ambrosia, o néctar dos deuses. As lamentações do deus atingiu a consciência das Moiras. Elas deram nova vida ao Âmpelo, cujo corpo se enraizou e se tornou uma videira. Com o gotejamento de uma dose da ambrosia, o suco da uva produziu a embriaguez: foi a primeira aparição do vinho sobre a Terra.
Âmpelo & Ovídio
A segunda tradição geral envolve as videiras de uma maneira diferente. O poeta Ovídio, além de especificar que o Ámpelo era filho de um sátiro e de uma ninfa, conta uma versão diferente do mito. Segundo essa versão, Dioniso e seu favorito viviam nas montanhas Ismari, na parte grega da Trácia. O deus confiou ao companheiro uma videira, a qual pendurava-se nos galhos de uma árvore de olmo. O jovem resolveu, então, escaladar a árvore para colher o fruto da videira, mas perdeu o equilíbrio e morreu no acidente. A árvore foi, então, batizada com o seu nome. Dioníso, em seguida, libertou o jovem morto e o elevou ao céu, convertendo-o na estrela Epsilon Virginis, da Constelação de Virgo. Essa estrela, com sua aparição no céu, no início do outono, marca o começo do período da colheita das uvas para a transformação em vinho.